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A Saída da Habitíssimo do Brasil: Causas e Impactos

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A construção civil brasileira vem passando por transformações significativas, sobretudo na forma como profissionais e clientes se conectam. Há poucos anos, surgiram plataformas online que facilitam a busca por serviços de reforma, construção e manutenção, trazendo dinamismo ao setor. Entre elas, a Habitíssimo se destaca, oferecendo um modelo de marketplace que conecta empreiteiros, pedreiros, eletricistas, encanadores e demais profissionais a pessoas em busca de orçamentos. Porém, nos últimos meses, o mercado foi surpreendido pela notícia da saída da empresa do país.

Neste artigo, discutiremos as prováveis causas da saída da Habitíssimo do Brasil, os impactos imediatos e de longo prazo para o mercado de construção e reformas, além de apresentar algumas plataformas alternativas que podem suprir as necessidades de empresas e profissionais que dependiam do marketplace.

A ascensão de marketplaces de serviços no Brasil

Nos últimos anos, o mercado de construção civil no Brasil encontrou nos marketplaces online uma forma de potencializar negócios. Pessoas interessadas em construir ou reformar acessavam esses sites para solicitar orçamentos e comparar profissionais. Era (e ainda é) um modelo que visava simplificar o processo de contratação, evitando a necessidade de o cliente sair pesquisando no “boca a boca” ou em redes de contatos restritas.

A Habitíssimo surgiu nessa esteira de oportunidades, oferecendo um sistema relativamente simples e intuitivo. Bastava criar uma solicitação de orçamento detalhando o serviço, para que os profissionais cadastrados pudessem enviar propostas e se candidatar. A partir daí, construía-se uma rede de avaliações e reputações, o que, idealmente, trazia mais confiabilidade em relação aos prestadores de serviço.

Entretanto, com o passar do tempo surgiram concorrentes brasileiros e estrangeiros. Algumas plataformas focaram na experiência do usuário, enquanto outras expandiram os recursos para além da simples intermediação de serviços. Houve ainda um crescimento expressivo de aplicativos de celular que tentavam resolver problemas de forma rápida, muitas vezes cobrindo tanto o ramo da construção quanto áreas de serviços domésticos mais gerais. Nesse ambiente competitivo, cada empresa buscava um diferencial para sobreviver.

Embora tenha se estabelecido inicialmente, a Habitíssimo passou a enfrentar obstáculos, que podem ter contribuído para sua decisão de encerrar as atividades no país. Para entender melhor esse movimento, precisamos analisar as causas da saída, algo que interessa tanto aos profissionais de obras quanto aos clientes, sem falar nas construtoras e engenheiros que se acostumaram a buscar prováveis clientes por meios digitais.

Causas da saída da Habitíssimo do Brasil

A saída da Habitíssimo do Brasil não aconteceu da noite para o dia. Ainda que detalhes oficiais não tenham sido amplamente divulgados, existem possíveis fatores que indicam as razões por trás dessa decisão. Não é incomum vermos empresas estrangeiras recuando de mercados complexos quando não encontram o equilíbrio entre custos de operação, faturamento e projeções de crescimento. A seguir, reunimos algumas prováveis causas:

1. Competição acirrada

O mercado de plataformas de serviços cresceu rapidamente. Assim, a Habitíssimo passou a concorrer com diferentes sites e aplicativos já enraizados no dia a dia do brasileiro (e até de outros países). Alguns deles contavam com estratégias mais agressivas de marketing ou atuavam com taxas menor ou gratuitamente, oferecendo funcionalidades variadas. Diante dessa conjuntura, manter-se competitivo no Brasil exigia mais investimentos em divulgação, suporte e parcerias, o que elevava os custos.

2. Dificuldades de monetização

Muitas plataformas de serviços vivem o dilema de como monetizar corretamente sem perder profissionais e clientes pela alta cobrança de taxas ou mensalidades. No caso da Habitíssimo, era necessário pagar por leads ou por planos que liberavam acesso a mais solicitações de orçamentos. Profissionais menores, sem grande fluxo de caixa, às vezes não viam vantagem em arcar com esses custos. Ao mesmo tempo, a plataforma precisava de receita para evoluir, investir em tecnologia e marketing. É possível que a base de usuários pagantes não tivesse atingido a sustentabilidade desejada.

3. Complexidades do mercado brasileiro

O setor de construção civil no Brasil enfrenta questões relacionadas à informalidade, tributação e regulação. Muitos profissionais informais preferem trabalhar sem recolhimentos fiscais e, portanto, hesitam em se cadastrar em plataformas que possam expor suas atividades. Além disso, operar no mercado brasileiro implica lidar com variáveis macroeconômicas, como alta inflação e variações cambiais, que impactam o custo de manutenção de uma empresa estrangeira. Tudo isso, somado à burocracia local, pode ter tornado a operação desafiadora para a Habitíssimo.

4. Reajuste estratégico da empresa matriz

A Habitíssimo é de origem espanhola e possui (ou possuía) operações em diversos países. É comum que, em processos de reestruturação, grupos multinacionais avaliem a lucratividade e o potencial de cada praça e decidam encerrar operações onde o retorno não seja tão promissor. Isso acontece com empresas de diferentes setores e pode acontecer ainda mais rapidamente em negócios digitais, cujo capital investido pode ser realocado em regiões com maior demanda ou menor concorrência.

5. Feedbacks negativos de usuários

Nos últimos tempos, algumas reclamações de usuários e de profissionais a respeito de leads de baixa qualidade ou dificuldades de contato com clientes interessados foram bastante frequentes em redes sociais. Isso pode ter desgastado a imagem da plataforma, reduzindo a disposição dos profissionais em renovar assinaturas ou adquirir pacotes de leads. Uma redução significativa de usuários ativos prejudica a liquidez do marketplace (menos profissionais querendo pagar para receber propostas e menos clientes engajados).

Embora não exista um pronunciamento oficial que aponte a causa exata, esses fatores provavelmente se somaram, contribuindo para a decisão de a empresa encerrar suas atividades no Brasil.

Impactos da saída para o mercado de construção e reformas

A saída de uma plataforma que servia de ponte entre clientes e profissionais gera consequências significativas. Embora o Habitíssimo não fosse a única opção de marketplace, muitos profissionais construíram parte de sua cartela de clientes a partir da plataforma, e agora precisam encontrar novas maneiras de divulgar seus serviços. Os principais impactos incluem:

1. Menor visibilidade para profissionais autônomos

Para profissionais autônomos ou pequenos empreendedores, a plataforma funcionava como vitrine de serviços. Sem ela, pedreiros, eletricistas e pintores podem ter mais dificuldade de captar clientes fora da sua rede de contatos. Isso induz muitos a migrarem para outras plataformas, redes sociais ou métodos de divulgação tradicionais, como panfletagem ou anúncios em classificados locais.

2. Redução de oferta de orçamentos para clientes

Pessoas interessadas em construir ou reformar também perdem um canal de pesquisa. No Habitíssimo, elas podiam enviar uma única solicitação e receber várias propostas simultâneas, comparando valores e currículos. Com o fim das operações, o cliente que não conhece ou não confia em outros marketplaces pode voltar à pesquisa manual: perguntar a parentes, checar grupos de bairro ou redes de relacionamento profissional. Isso torna o processo mais demorado e, em alguns casos, menos confiável, pois a plataforma oferecia avaliações de usabilidade e notas dadas por outros clientes.

3. Concorrência mais concentrada em plataformas restantes

A lacuna deixada pela Habitíssimo tende a ser preenchida por concorrentes que já operam no setor. Assim, plataformas semelhantes podem ganhar espaço e aumentar a base de usuários, intensificando a procura por serviços. Se existe alguma plataforma capaz de absorver esse público, ela provavelmente verá um crescimento rápido, mas também enfrentará desafios em manter a qualidade do atendimento e a confiabilidade das propostas.

4. Adoção de redes sociais como substitutas

Muitos profissionais já perceberam que divulgar serviços em redes sociais (como Facebook, Instagram e até aplicativos de mensagens) se tornou algo corriqueiro. A saída da Habitíssimo pode impulsionar essa tendência, sobretudo para aqueles que não desejam pagar taxas a plataformas especializadas. Porém, esse caminho traz menores garantias de confiabilidade e exige do profissional habilidades de marketing digital para se destacar da concorrência.

5. Modificações em estratégias de marketing das construtoras

Algumas construtoras de pequeno e médio porte utilizaram a Habitíssimo para captar reformas residenciais ou pequenas obras comerciais. A saída da empresa pode levá-las a repensar suas estratégias. Muitas vão optar por portais de imóveis ou sites especializados em construção civil. Outras podem substituir a participação em marketplaces por iniciativas de marketing (como anúncios segmentados em buscadores). Cada construtora buscará um caminho que compense a ausência de um canal de leads consolidados.

Superando a ausência e buscando novas oportunidades

A Habitíssimo se despediu do mercado brasileiro, mas isso não significa que o profissional de construção ou reforma esteja órfão de opções digitais de divulgação e prospecção. Selecionamos algumas plataformas que podem suprir essas necessidades, além de darem suporte a diferentes perfis de empresas.

1. GetNinjas

Uma das plataformas mais conhecidas no Brasil para conectores de serviços diversos (não apenas construção), o GetNinjas se tornou popular por ser um canivete suíço, com contratação e oferta de pintores, pedreiros, encanadores, professores particulares, mecânicos e muito mais. O modelo de compra de leads pode ser um pouco semelhante ao que a Habitíssimo adotava, mas a base de clientes na plataforma é bastante ampla. Isso abre oportunidade para quem deseja divulgar serviços para um público variado.

2. Mercado Livre Serviços

O Mercado Livre, conhecido por transações de produtos, também conta com seções dedicadas a serviços. Embora não seja tão “verticalizado” em construção civil quanto eram plataformas como a Habitíssimo, há um potencial de alcance muito grande, dado o tráfego expressivo do site. Profissionais podem criar anúncios de serviços padronizados (por exemplo, “Instalação de piso laminado em sala de até 20m²”).

3. OLX Serviços

A OLX, popular em vendas de usados e divulgação de produtos, também permite anúncios de serviços, incluindo os da construção civil. Profissionais costumam criar anúncios detalhando o que fazem, e as pessoas interessadas entram em contato via chat ou telefone. Embora a plataforma não tenha recursos de avaliação tão avançados, nem uma estrutura de reputação comparável a marketplaces específicos, ela oferece alcance amplo e custo de uso (na maioria das vezes) zero, exceto se o usuário optar por anúncios destacados.

4. Redes sociais e aplicativos de mensagens

Como mencionado, Facebook, Instagram, WhatsApp e até Telegram podem parecer opções menos estruturadas, mas muitos profissionais conseguem enorme visibilidade nas redes, sobretudo em grupos de bairro ou comunidades específicas voltadas para construção e reforma. No Instagram, por exemplo, é comum arquitetos e construtoras postarem fotos de projetos finalizados, mostrando o “antes e depois” de um ambiente, e assim atrair interessados.

5. Vobi

Quando falamos em plataformas voltadas exclusivamente para o setor de construção, uma das opções mais promissoras é a Vobi. Ela oferece funcionalidades de planejamento e gerenciamento de obras, permitindo que profissionais tenham mais controle sobre cronogramas, orçamentos e comunicados com clientes. Isso facilita a interação entre diversas frentes: por exemplo, o engenheiro que precisa acompanhar a evolução da obra, o escritório que faz o orçamento e os fornecedores de materiais.

Outro ponto forte reside no fato de a plataforma servir como um hub de informações. Ela disponibiliza espaço para enviar e receber documentos, imagens e relatórios de status. Para construtoras que precisam manter uma comunicação frequente com clientes, essa estrutura facilita a organização do fluxo de trabalho. Assim, as partes envolvidas conseguem acompanhar o progresso e tirar dúvidas em tempo real.

A longo prazo: aprendizados e tendências

A saída da Habitíssimo do Brasil traz lições para todo o mercado de serviços de construção e reforma. Primeiramente, mostra que a dependência completa de uma única plataforma envolve riscos. Empresas e profissionais que diversificam canais de captação mitigam o perigo de ficarem “órfãos” quando ocorrem mudanças drásticas.

Também aponta para uma tendência de especialização nas plataformas de construção. Enquanto marketplaces genéricos podem oferecer volume de leads, existe um público que valoriza muito mais a qualidade e a segurança nas transações. Não basta apenas receber contatos aleatórios; é preciso ter capacidade de filtrar clientes alinhados ao nicho de atuação e garantir que o serviço seja avaliado e acompanhado de maneira confiável.

O uso estratégico de tecnologias de gerenciamento de obra, tais como a Vobi e outras soluções, tende a crescer. Isso ocorre principalmente entre pequenas e médias construtoras, que antes consideravam tais ferramentas acessíveis apenas a grandes empresas. A digitalização do canteiro de obras melhora a transparência, a eficiência e a comunicação interna, fatores que repercutem positivamente na reputação do profissional ou da construtora.

Para quem busca continuar evoluindo no ramo de construção e reformas, a recomendação é clara: investir em múltiplos canais, cultivar uma presença digital consistente, zelar pela qualidade do serviço e usar ferramentas de gestão que tornem o trabalho mais organizado e transparente. Dessa forma, a saída de uma plataforma, por mais relevante que tenha sido, não impedirá que o profissional ou empresa prospere em um mercado que continua com demanda crescente por melhorias em residências, comércios e espaços corporativos.